Paula Sousa

Paula Sousa, pianista, compositora e improvisadora, reúne numa formação standard do jazz contemporâneo, a irreverência do rock com a universalidade da música clássica, dando-lhe um peculiar sabor português. Oferece um reportório de originais em que a emoção dá lugar a uma liberdade artística honesta, fora dos compromissos estéticos habituais. Uma reciclagem de som luso que reformula o conceito de importação.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Uma voz por mil sons

A música clássica, o pop e, finalmente, o jazz traçam o percurso da pianista Paula Sousa. Sem que os estilos se deixem de tocar, é naquele último que atinge um ponto de maturação na sua carreira e revela a sua mestria, não só como instrumentista, mas como compositora. Valsa Para a Terri, é o seu primeiro disco, como autora e líder do quarteto formado por Afonso Pais (guitarra), Hugo Antunes (contrabaixo) e Luís Candeias (bateria), com o convidado João Guimarães (saxofone alto). Paula Sousa transfere para o universo musical uma carga emocional esmagadora, definida por uma construção harmónica inteligente, versátil e pela forma temática coesa e sensível. A apresentação do disco abriu a 6ª Festa do Jazz do São Luiz, a 5 de Abril. Foi gravado ao vivo, em Setembro de 2007, no Hot Clube, onde regularmente actua.
Paula Sousa é a primeira a afirmar-se como músico profissional, numa família de comerciantes de Viana do Castelo. Aos seis anos, fez «uma grande birra» e «reivindicou» os estudos de piano-coisa que a famIlia «acalentou», mas «não considerava como opção profissional». Teve professores particulares e frequentou o Conservatório de Música do Porto. Paralelamente, estudava Economia, mas chegando ao 4º ano do curso, decidiu que «o que queria era mesmo ser pianista!». Colaborou com algumas escolas de bailado e fez parte de várias bandas pop. A sua primeira gravação foi para um disco de poesia de Eunice Munoz. Ainda no Porto, gravou para o álbum que lançou os Repórter Estrábico, com quem tocou durante 4 anos. Em 1992, recebeu o convite da poetisa Ana Deus e da cantora Regina Guimarães para integrar a banda pop, Três Tristes Tigres, onde desenvolveu algum trabalho de composição. Entretanto, durante um «período de insatisfação no âmbito pop», geriu um bar no Porto,o Pinguim Café, com sessões de poesia e música ao vivo. É com a chegada do novo milénio que se dá uma grande transformação na sua vida: Muda-se para Lisboa, com o seu filho, Sérgio Miranda, dos Straight Flash, o segundo, na família, a afirmar-se como músico profissional e que na altura era contrabaixista de jazz. «Fiquei “picada” com ele», diz Paula Sousa. E entrou na Escola do Hot Clube. Procurava «uma nova profundidade, estudar música improvisada e abrir novos horizontes». No mesmo ano, fez um curso de Verão na Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos, onde se cruzou com «gente de todo o mundo que estava constantemente a tocar».
O intercâmbio de experiências foi «tão estimulante» que a pianista voltou, em 2002, para tirar o diploma em Jazz Performance. Actualmente, Paula Sousa é professora de Piano e de Treino Auditivo na escola JB Jazz, em Lisboa. Lidera diferentes projectos de originais e outros, como os Monk Maniacs (em reformulação) e os 4EvanSake, dedicados à obra de Thelonious Monk, e de Bill Evans. Estes são alguns dos músicos que admira e que a influenciam. Outros serão Keith Jarrett, Brad Mehldau, Debussy, David Bowie, Morphine e Talking Heads. Enfim, são vários os gostos que convivem, que lhe pontuam o percurso, a música, e se fundem numa procura: «A constante redescoberta de uma voz própria, muito pessoa!». O próximo disco já está a “sair da manga”, em princípio com a mesma formação deste primeiro. Paralelamente, outro projecto está a ser começado, com influências pop mais evidentes. Este é um excelente princípio para Paula Sousa, como autora de um disco. Esperemos que seja o primeiro de muitos!

SOFIA FREIRE

Valsa para a Terri

quinta-feira, 12 de junho de 2008